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Cantareira ficará sem reserva de água já no 2º semestre, mostra relatório

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana

02/04/2014 16h42

Um estudo do Gtag (Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão) do Sistema Cantareira divulgado na última terça-feira (1) antecipou que, em razões das baixas precipitações registradas neste ano, o sistema deve entrar em colapso --o que significa ficar sem reserva de água--, no segundo semestre de 2014.

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No melhor dos cenários, a água acaba em setembro e, no pior, em julho. No intermediário, o fim das reservas ocorre em agosto.

Na última previsão, feita em fevereiro e que contava com precipitações maiores em março, a previsão era, no melhor dos cenários, que a água não acabasse e os reservatórios chegassem a dezembro com 21%. No pior, a água acabaria no fim de agosto e, no intermediário, os reservatórios chegariam a dezembro com 5%.

O grupo se baseou na média histórica de precipitações. Como melhor cenário, foi levado em conta a média de chuvas do pior ano da série (1958) de abril a outubro. O cenário intermediário considerou as médias mínimas de chuvas para cada mês, de abril a outubro, registradas entre 1930 e 2013 e, no pior cenário, foram consideradas chuvas de 70% das médias mínimas para cada mês, registradas entre 1930 e 2013.

De acordo com o documento, o balanço mensal entre as vazões afluentes e as retiradas está deficitário em 10 metros por segundo, o que corresponde a 26,8 milhões de m³/mês. Esse montante recomenda mais de três vezes a água retirada para o abastecimento de toda a região de Campinas.

Hoje, o índice que mede o volume de água armazenado na s represas recuou 0,1 ponto porcentual, atingindo a marca mínima histórica de 13,3%, segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

As águas do manancial são responsáveis pelo abastecimento de 14 milhões de pessoas, sendo 9 milhões na Grande São Paulo e 5 milhões na região de Campinas.

O relatório do Gtag é assinado por representantes do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), pela ANA (Agência Nacional de Águas), pelos comitês das Bacias PCJ, que envolve os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e Alto Tietê, além da Sabesp, que abastece a capital paulista.

Sem a força do coração do sistema

O estudo indicou ainda que a represa e o reservatório de Jaguará/Jacareí, considerados o coração do Cantareira e que concentram 82% da água do sistema, hoje em 7% da capacidade, pode chegar a 5%, limite do volume morto, em menos de 20 dias. “A necessidade de utilização do volume abaixo do mínimo operacional poderá ocorrer antes, no reservatório de Jaguari-Jacareí”, diz a nota.

Após o colapso do Cantareira, o abastecimento terá que ser feito através da utilização do volume morto, águas que ficam abaixo do nível de captação atual e que terão que ser bombeadas através de um sistema que custará R$ 80 milhões. A Sabesp espera que as obras sejam finalizadas até o fim de junho.

De acordo com previsões meteorológicas, há poucas chuvas previstas para os próximos dois meses, o que pode agravar ainda mais a situação do Cantareira. Nos próximos 15 dias, por exemplo, a previsão é de chuvas de 30 milímetros, quantidade que não é suficiente para elevar o nível dos reservatórios.

Na previsão do Cepagri, abril será seco na região. "Este será um ano mais seco. Não teremos grande volumes de chuva nos próximos meses", comentou Hiton Silveira, diretor da instituição.

Volume morto é a única opção

Apesar do cenário, o governado de São Paulo, Geraldo Akckmin (PSDB), declarou reiteradas vezes que o Estado não ira adotar o racionamento. Para isso, o governador já afirmou que a alternativa é a captação do chamado volume morto.

A expectativa é que as obras sejam concluídas até o fim do semestre e que a água a ser retirada seja suficiente para manter o abastecimento da Grande São Paulo por pelo menos quatro meses, justamente os de mais seca.

Em outra frente, as autoridades também anunciaram a ampliação dos descontos para quem consumir menos água. A medida, anunciada na semana passada, prevê desconto de 30% para quem reduzir o consumo de água em ao menos 20%. A ação deve causar perda de receita de R$ 800 milhões para a Sabesp.

A medida, no entanto, possui críticos severos, como o Ministério Público de São Paulo, que entende que o racionamento é a melhor opção. O promotor Rodrigo Garcia afirma, inclusive, que a retirada provocará danos severos ao ecossistema e que não resolverá problema.

“O Sistema Cantareira certamente não irá se recuperar. O volume de chuvas não será capaz de repor esse volume morto. Não se pode ter a ilusão que a Região Metropolitana de São Paulo está imune ao racionamento”, disse.

O Consórcio PCJ, que reúne cidades, empresas e entidades da região cortada pelos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari, é outra instituição a defender o racionamento. Entre as metas propostas pela entidade está a redução gradual do consumo em 50% para a Região Metropolitana de São Paulo de forma a possibilitar a recuperação do manancial.

"É necessário fazer o racionamento, que deveria começar imediatamente. Só assim poderemos manter a captação do Cantareira até o período de chuvas de agosto e setembro”, avalia Francisco Carlos Castro Lahóz, secretário executivo do Consórcio PCJ.

Outra alternativa que pode impedir a utilização do volume morto e a transposição da água da bacia do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, anunciada recentemente por Alckmin e que teria custo de R$ 500 milhões.

O sistema, que demandaria a construção de tuneis de 15 quilômetros, será alvo de análise pelo Ministério Público Estadual e foi criticado por instituições do setor.

Sistema Cantareira se espalha por SP e MG

O Sistema Cantareira é um conjunto de seis represas (Jaguari/Jacareí, Cachoeira, Atiabainha, Águas Claras e Paiva Castro) e sua área total tem aproximadamente 227.950 hectares, abrangendo 12 municípios, sendo quatro deles no estado de Minas Gerais (Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim) e oito em São Paulo (Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem).

Às cidades das bacias PCJ são destinados 3 metros cúbicos por segundo de vazão primária e 2 metros cúbicos por segundo de vazão secundária, totalizando 5 metros cúbicos por segundo.

O primeiro valor, por conta da seca, é o que está sendo utilizado. Já para a Grande São Paulo são enviadas 24,8m metros cúbicos por segundo de vazão primária e 6,2 metros cúbicos por segundo de vazão secundária. O primeiro valor é o que atualmente tem sido retirado.